quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As tragédias pessoais de alguns artistas e como elas influenciaram a obra de cada um

Infelizmente, nem é tudo é maravilhoso e lindo no mundo das artes plásticas. A vida pessoal dos artistas, suas crenças, seus pensamentos, seu comportamento, certamente influenciaram suas obras. E quase todos passaram por muitos dramas e sofrimentos pessoais, que refletiram nas obras produzidas. Não dá para falar das histórias de todos eles, caso contrário eu necessitaria escrever um post novo todos os dias durante meses e meses - no mínimo. Assim, escolhi alguns dos casos mais intrigantes.
René Magritte, surrealista belga, teve sua mãe desaparecida quando ele tinha 14 anos. Quase um mês depois o corpo dela foi encontrado - ela tinha cometido suicídio -, boiando em um rio. E Magritte presenciou a cena. A adolescência é a fase mais complicada na vida de uma pessoa, imagine aos 14 anos ele ter encontrado a mãe morta em um rio, e imagine o estado de putrefação em que ela deveria ter sido encontrada, certamente foi uma cena desesperadora e horripilante. Tem mais um detalhe, naquela região do rio ventava bastante, e quando foi encontrada a sua blusa cobria o rosto. Perceba que em muitas das obras de Magritte, as figuras humanas tem seu rosto escondido por alguma coisa. Alguns críticos acreditam que essa cobertura dos rostos na obra do artista foi claramente influência da lembrança do corpo da mãe. E parece-me perfeitamente coerente. Aquilo traumatizaria qualquer pessoa que não fosse portadora de sérios problemas mentais, e perturbou o artista, que extravasou na sua obra. Vejam algumas obras de Magritte e perceba os rostos:


 Os amantes
O filho do homem

Já escrevi todo um post dedicado à mexicana Frida Kahlo, é só procurar pelo nome dela na coluna de marcadores, mas vou só lembrar um pouco a história dela. Frida não tinha a arte como atividade principal até ter sofrido um sério acidente que a deixou na cama por alguns anos. Um bonde colidiu com um trem e uma barra de ferro adentrou o corpo de Frida causando danos seríssimos, só mesmo milagre ela não ter morrido. A barra perfurou o útero dela, suas costas, e ela teve inúmeras fraturas. No tempo em que passou no hospital conseguia mover apenas os braços, o que foi suficiente para dedicar-se à pintura. Frida perdeu um filho e não conseguiu mais engravidar, devido à seriedade da lesão. Na sua obra pode-se perceber claramente referências ao seu período hospitalizada e à perda do filho. Veja alguns quadros que ela pintou, e atente-se sempre para as influências pessoais impressas na tela:


 Coluna partida

O holandês Vincent Willem van Gogh tinha de problemas o que tinha de genialidade. Ele tinha histórico na família de problemas mentais, e não foi exceção. Era portador de transtorno bipolar, depressão e epilepsia, e tinha crises que duravam semanas. Sua vida pessoal era falida, não casou-se nem teve filhos, não podia manter-se financeiramente (contando, assim, com a ajuda do irmão), tinha problemas para relacionar-se com outras pessoas. Sofria, também, de xantopsia, uma doença que faz a pessoa enxergar os objetos em amarelo, daí, dizem, a justificativa para a presença intensa e destacada do amarelo e seus tons mais fortes em sua obra. Não fez fama nem dinheiro em vida, e tudo o que conhecemos de sua obra hoje veio após sua morte. Talvez se ele tivesse chegado a ver a importância de seu trabalho para a História da Arte sua auto-estima estaria em um patamar melhor e talvez até ajudasse na melhora do seu estado depressivo. Decepou um pedaço da orelha com a ajuda de uma navalha. Deu cabo à própria vida com um tiro no peito, com apenas 37 anos de idade. Imagine o quanto ele ainda teria para produzir se não tivesse cometido suicídio.

 Auto retrato - perceba o curativo na orelha mutilada
 Caveira

O cubista Pablo Picasso também passou por seu período sombrio, conhecido como "fase azul". Foi um momento de grande introspecção, até meio depressivo, inclusive porque um grande amigo seu havia cometido suicídio. Na fase azul, Picasso passou a retratar mendigos, cegueira, prostitutas, miséria, morte... O momento do artista recebeu essa nomenclatura justamente porque em sua paleta de cores constou basicamente o azul e seus tons.


 Duas irmãs
A tragédia

Outro surrealista, o espanhol Salvador Dalí, teve grande apoio de sua mãe quando decidiu-se por ingressar e seguir carreira nas artes plásticas. Como Magritte, ele era um adolescente na época do acontecimento, tinha 16 anos. Aquilo o marcou profundamente, porque tinha uma conexão muito forte com ela, e o fato de ela tê-lo apoiado nas artes foi um grande incentivo na sua vida. Para o garoto que futuramente seria o excêntrico Dalí que conhecemos, foi um golpe muito duro. Na época da morte dela, o jovem Dalí desabafou: "foi o maior golpe que eu havia experimentado em minha vida. Eu a adorava… eu não podia resignar-me a perda de um ser com quem eu contei para tornar invisíveis as inevitáveis manchas da minha alma" (Dalí, Secret Life, pp.152–153).

 A face da guerra



Jean Michel Basquiat, o pupilo de Andy Warhol, não teve uma vida fácil também. Pobre, não tinha condições de estudar em uma boa escola de arte. Desde pequeno já desenhava, e começou fazendo grafites em prédios abandonados. Mais tarde teve grande impulso na sua carreira graças especialmente a Warhol. Fazia enorme uso de drogas, e aumentava a dosagem cada vez mais, tendo tornado-se paranóico e deixando seus amigos muito preocupados com a vida que levava. Acabou morrendo extremamente jovem, aos 28 anos de idade, vitimado por uma overdose de cocaína e de heroína.




O pintor Francisco de Goya, espanhol do movimento artístico conhecido como Romantismo, adquiriu, já maduro, uma doença, em uma viagem, misteriosa e desconhecida, que o deixou paralítico, com surdez total e cegueira parcial. Por causa dessa doença, sem saber se um dia voltaria a recobrar sua saúde, "A alegria desapareceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Goya). No ano seguinte, felizmente, ele recuperou-se em parte dos danos causados pela doença, mas não ficou curado. "Durante a última parte de sua vida, Goya cobriu as paredes de sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu gênio atormentado, como "Saturno devorando a un hijo" (1815) que se encontra atualmente no Museu do Prado. Esta pintura constitui uma referência aos conflitos internos de Espanha, durante o reinado absolutista de Fernando VII, mas será também um reflexo da degradação da sua saúde física e mental." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Goya).




Claro que há muito mais obras e artistas que possuem igual ou maior importância que os que escolhi. Esse post quis demonstrar que o que acontece na vida pessoal de um artista, suas inquietações, seus questionamentos, refletem necessariamente na sua obra, ainda que ele tente desvencilhar-se disso. Mesmo que ele o faça de forma inconsciente ainda conseguimos perceber, e fica mais nítido ao conhecermos a vida do artista. Apesar das tragédias e dificuldades em suas vidas, eles foram grandes nomes das Artes Plásticas.

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