sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A incrível "viagem" dadaísta

O Dadaísmo foi um movimento artístico iniciado por Tristan Tzara e outros artistas, em 1916, e surgiu na Alemanha com uma proposta inusitada: a utilização, nas obras artísticas, de materiais descartados pela sociedade, usando em larga escala as técnicas da colagem e da foto-montagem. A própria denominação já demonstra o que o movimento quer propor: algo sem nexo. Dadaísmo vem de "dadá", e diz a "lenda" que aquela foi uma palavra aberta aleatoriamente no dicionário pelos iniciadores do movimento, e que acabou batizando o mesmo, por representar os primeiros sons balbuciados por uma criança, ou seja, o princípio, o começo de uma vida, mas também o sem sentido. Sem sentido também e até mesmo cômicas são o nome de algumas das obras, como a interferência que Marcel Duchamp fez no quadro da Monalisa (ele adicionou ao quadro um bigodinho e uma barba pontudos; logo abaixo vou postar a foto da obra), e o intitulou "L.H.O.O.Q." o que, por si só já é inusitado batizar uma obra com uma sigla, mas a mesma, traduzida, significa algo como "ela tem fogo no rabo". Confesso que quando descobri, pela professora de História da Arte, esse significado, morri de rir e fiquei imaginando a ousadia dos artistas e a reação das pessoas daquela época, final do século XIX e comecinho do século XX, diante das obras desse movimento de vanguarda. O objetivo de Duchamp, assim como o do próprio Dadaísmo, era debochar da arte, dos padrões praticados e quebrar essa estética, rompê-la por completo.
Um movimento um tanto irracional para algumas pessoas acabou servindo de base para outros movimentos como o Surrealismo, a arte conceitual, a Pop Art, etc. Assim, no final de tudo, não se pode negar a grande importância que o Dadaísmo teve na História da Arte.
Mais uma vez meu velho comentário de sempre: as pessoas possuem a tendência inerente em si mesmas de repudiar o novo, o desconhecido, de ficar sempre na zona de conforto e aplaudir o clássico, o de sempre, o comum, e estanhar algo que quebre completamente os padrões vigentes. Por isso, porque o Dadaísmo quebrou todas as correntes que existiam até então, que acho esse movimento tão fantástico.
O próprio Tristan Tzara deu a "receita" para ser confeccionada uma poesia dadaísta - vale praticar em casa, é bem divertido, rsrs:
  • "Pegue um jornal.
  • Pegue a tesoura.
  • Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
  • Recorte o artigo.
  • Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
  • Agite suavemente.
  • Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
  • Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
  • O poema se parecerá com você.
  • E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público."
Como características dadaístas, podemos apontar essencialmente a combinação do pessimismo irônico e da ingenuidade social, ênfase no absurdo, protesto contra toda aquela loucura da guerra (I Guerra Mundial), e a utilização das colagens, do poema aleatório e dos ready-mades. Segundo nossa professora de História da Arte, se atribuirmos palavras-chaves para caracterizar o movimento, estas seriam: denúncia, escândalo, incoerência, desordem, deboche, polêmica e caos.
Alguns dos principais artistas do movimento são Marcel Duchamp, Man Ray (fotógrafo), Hanna Hoch (ela ganhará um post só para falar da sua vida e das suas obras naquela série que estou escrevendo sobre importantes mulheres para a arte), Francis Picabia e Kurt Schwitters.
Marcel Duchamp foi um artista que se destacou muito no movimento, e produziu obras polêmicas, intrigantes e desafiadoras, como o quadro "L.H.O.O.Q.", comentado acima, e promoveu a exposição de um mictório de louça de banheiro masculino, tendo apenas assinado (com um pseudônimo) e colocado o ano na peça. Duchamp foi um escultor e pintor francês, criador da técnica artística do ready-made (é o transporte de um elemento da vida cotidiana para o campo das artes; era um objeto pronto que servia de base para as obras do artista). Além do mais esse artista foi muito importante porque foi um dos precursores da arte conceitual. E tem ainda mais, Duchamp também atuou na arte performática, tendo criado uma personagem, Madame Rose Sélavy, que era o próprio Duchamp travestido de mulher, que circulava pelo meio social com sua intensa ironia e uso de muitos trocadilhos, que divertia a todos. O Dadaísmo, assim como a arte contemporânea e mais alguns movimentos, também nos leva a rediscutir os rumos da arte e o seu conceito. Pegar uma peça de banheiro e assinar é arte?! Por isso devemos rever nossos conceitos e estudar o passado e o presente da arte para tentar enxergar as tendências do futuro, o que se afigura diante dos nossos olhos na atual arte contemporânea, herança de toda uma história, em especial da arte moderna, que abriu novas portas, proclamou novos conceitos e divulgou novas visões.

 Duchamp como Rose Sélavy, clicado por Man Ray
 A famosa "L.H.O.O.Q."
 O aparelho de louça de banheiro masculino, assinado por Duchamp em 1917 sob o pseudônimo R. Mutt

Ready-made por Duchamp
 "O violino de Ingres", uma releitura de Man Ray para uma pintura do artista neoclássico francês Ingres, falecido em 1867
 Trabalho de Man Ray
 Fotografia de Man Ray

Foto de Man Ray

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